O psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, interpreta a cultura que prega a violência policial e a força conservadora no Brasil, que define como direita violenta . Ponto de vista complementado pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de segurança pública e autor do livro Elite da tropa, que aponta as dificuldades para implementar mudanças na polícia brasileira, a partir de perspectiva de políticas públicas de segurança; e pelo depoimento do coronel Íbis Pereira, chefe de gabinete do comando-geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, sobre como combater a perversa estrutura do trabalho policial.Dois artigos foram assinados por instituições, trazendo, portanto, o ponto de vista de uma coletividade. Um deles foi redigido por pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), o primeiro centro acad…
O psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, interpreta a cultura que prega a violência policial e a força conservadora no Brasil, que define como direita violenta . Ponto de vista complementado pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de segurança pública e autor do livro Elite da tropa, que aponta as dificuldades para implementar mudanças na polícia brasileira, a partir de perspectiva de políticas públicas de segurança; e pelo depoimento do coronel Íbis Pereira, chefe de gabinete do comando-geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, sobre como combater a perversa estrutura do trabalho policial.Dois artigos foram assinados por instituições, trazendo, portanto, o ponto de vista de uma coletividade. Um deles foi redigido por pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), o primeiro centro acadêmico a se dedicar especificamente a estudar crime e polícia em nosso país. No texto, os pesquisadores mostram as diferentes explicações sobre a violência policial produzidas no Brasil e no exterior. O outro, assinado por participantes do Movimento Independente Mães de Maio, conta a história e a luta do coletivo que congrega familiares das vítimas de violência policial.Uma conclusão quase unânime dos autores é que um dos insumos da violência é a ausência de democracia real. Afinal, o sistema democrático no Brasil é uma conquista recente. Talvez por conta disso tenhamos mais problemas com os órgãos de segurança do que países onde esse sistema existe há mais tempo e onde a participação democrática vai além do direito ao voto , reflete o cientista político Guaracy Mingardi na apresentação do livro.Em texto elaborado a quatro mãos, os cientistas políticos João Alexandre Peschanski e Renato Moraes tratam das lógicas do extermínio . Segundo os pesquisadores, o entendimento da violência policial no Brasil passa necessariamente pela economia política e seus mecanismos excludentes. Já a juíza Maria Lucia Karam, no artigo Violência, militarização e guerra às drogas , discute os desafios para uma efetiva desmilitarização da sociedade.Contribuições jornalísticas trazem outros contornos à coletânea: Laura Capriglione analisa a cobertura da mídia e suas contradições e Fernanda Mena traça um panorama nacional da violência policial. O deputado federal Jean Wyllys aborda a necessidade de ampliação da comunidade de direitos, ou seja, a justiça social, em contraposição ao endurecimento das ações policiais.A psicanalista Maria Rita Kehl tece críticas aos sucessivos governos no comando da Polícia Militar de São Paulo, que nos faz recordar a retórica autoritária dos militares . Ordem e violência no Brasil , do também psicanalista Tales Ab Sáber, é um ensaio sobre o fenômeno da violência policial na cultura conciliatória contemporânea, em meio a manifestações, resistência e reminiscências da ditadura. Por sua vez, a socióloga Vera Malaguti comenta a segurança pública como decorrência de um conjunto de projetos públicos e coletivos capazes de gerar serviços, ações e atividades no sentido de romper com a geografia das desigualdades.Bala Perdida inclui ainda um conto inédito de Bernardo Kucinski ( A história de Tadeu ); prólogo do deputado estadual Marcelo Freixo; e uma participação especial de Eduardo Suplicy, secretário municipal de direitos humanos em São Paulo. O quadrinista Rafa Campos criou uma tira para o livro, que ilustra a abertura dos capítulos. O ensaio fotográfico de Luiz Baltar retrata remoções forçadas e ocupações militares em diversas comunidades e favelas do Rio de Janeiro desde 2009.