
Panaceia é popularmente conhecida como conjunto de remédios para todos os males, mas também é a deusa da cura na mitologia grega, tão cara para Cecília Floresta, autora deste volume de poemas.
A cura dos traumas causados pela invisibilidade e pela lesbofobia às mulheres que amam mulheres passa também pela arte, é certo, e nesse sentido é saudável que as poetas lésbicas, ou sapatões, como a geração de Cecília nos ressignifica, ofereçam poemas para chamarmos de nossos, para nos espelharmos, para termos alento, alegria, reflexão coletiva.
Nestes poemas, os títulos são curtos e um “falatório” de amor das mulheres-amantes desenha uma topografia de montes dos quais são miradas vastidões oceânicas de sentimentos e sensações. Existe uma passagem rápida por práticas de silenciamento a mulheres-sapatão, mas os poemas se ocupam mesmo é de modular as vozes emergentes, insurgentes. São poemas empenhados em re…
Panaceia é popularmente conhecida como conjunto de remédios para todos os males, mas também é a deusa da cura na mitologia grega, tão cara para Cecília Floresta, autora deste volume de poemas.
A cura dos traumas causados pela invisibilidade e pela lesbofobia às mulheres que amam mulheres passa também pela arte, é certo, e nesse sentido é saudável que as poetas lésbicas, ou sapatões, como a geração de Cecília nos ressignifica, ofereçam poemas para chamarmos de nossos, para nos espelharmos, para termos alento, alegria, reflexão coletiva.
Nestes poemas, os títulos são curtos e um “falatório” de amor das mulheres-amantes desenha uma topografia de montes dos quais são miradas vastidões oceânicas de sentimentos e sensações. Existe uma passagem rápida por práticas de silenciamento a mulheres-sapatão, mas os poemas se ocupam mesmo é de modular as vozes emergentes, insurgentes. São poemas empenhados em reverter clichês e inventar narrativas que deem certo para as mulheres e seus amores, que enfatizem um modo de viver desafiador da heteronormatividade, como nos versos: “esta noite/solitária por gosto/& fria pela estação […] escreverei um poema/pra dizer a ela que venha/sem aviso ou telefonema/& sem pudores capitais/bater em minha porta”.
Cecília Floresta cria um senso de pertença a uma comunidade-sapatão por meio de uma linguagem partilhada pelas mulheres-membro sobre o comum, sobre o ordinário que embasa os afetos e as sexualidades de mulheres que amam mulheres, que vivem a vida com mulheres, entre mulheres. A autora nos apresenta esse universo, nos convida a conhecê-lo e a respeitar seus códigos de existência. Que não nos falte coragem e olhos atentos para aceitar o convite, bem como ouvidos abertos para uma voz migrante na Pauliceia ou a voz de uma poeta perdida que acha a si mesma numa rua onde as iguais se encantam: “comprida rua augusta/da paulista até o centro/fostes muitas vezes/minha única consolação”.
Cidinha da Silva
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