Este é um livro de coragem. Aqui você encontrará um corpo exposto, como se virado do avesso. Christine Gryschek se aprofunda na carne, revira a mente, estuda o coração e, no fim da jornada, nos apresenta: aqui está o avesso. Ainda assim, este não é um livro de destruição, mas todo o contrário. A poeta atravessa as sombras e a loucura para criar a si mesma, num parto doloroso, mas cheio de possibilidades.
Os poemas que aqui conversam conosco trazem saltos, corvos, esfinges, oráculos silenciados e deuses em ruínas. Em certo ponto, o eu-lírico nos diz: — na minha mente há uma mulher intuitiva — / — na minha mente há uma mulher que insiste. Estamos na presença de uma poeta ciente de que o bom trabalho na poesia, como na vida, depende da insistência. Em seu livro de estreia, Christine já sabe que escrever é escavar com vagarosidade e atenção. Os poemas moram escondidos em lugares escuros. É preciso buscá-los …
Este é um livro de coragem. Aqui você encontrará um corpo exposto, como se virado do avesso. Christine Gryschek se aprofunda na carne, revira a mente, estuda o coração e, no fim da jornada, nos apresenta: aqui está o avesso. Ainda assim, este não é um livro de destruição, mas todo o contrário. A poeta atravessa as sombras e a loucura para criar a si mesma, num parto doloroso, mas cheio de possibilidades.
Os poemas que aqui conversam conosco trazem saltos, corvos, esfinges, oráculos silenciados e deuses em ruínas. Em certo ponto, o eu-lírico nos diz: — na minha mente há uma mulher intuitiva — / — na minha mente há uma mulher que insiste. Estamos na presença de uma poeta ciente de que o bom trabalho na poesia, como na vida, depende da insistência. Em seu livro de estreia, Christine já sabe que escrever é escavar com vagarosidade e atenção. Os poemas moram escondidos em lugares escuros. É preciso buscá-los — sem causar sustos nem fugas — dentro das cavernas, no céu da boca, no oco da caixa torácica, nas águas do mar, no chão do inferno.
A partir de uma autopoiese inclemente, Christine propõe recomeçar sem a fumaça turva do cigarro, com a visão clara e o pulmão aberto. Não se volta atrás, ela nos diz, mas se recomeça. Não há volta porque não há para onde voltar. É preciso escrever os lugares com os pés, assim aprendemos nesta obra. Trata-se aqui de se posicionar na curva do pensamento, bem ali onde se tem o melhor ângulo para olhar, ao mesmo tempo, para dentro e para fora. Os resultados dessa exploração podem ser violentos, mas também libertam.
Entre versos às vezes narrativos e às vezes entrecortados, percebemos a beleza da vida banal que exige compras na padaria e também encontramos razão no olhar quase surrealista capaz de enxergar os ossos do furacão. Este é um livro de imagens, e não apenas por conter ilustrações. O fim de todas as imagens pode acontecer, Christine nos alerta enquanto constrói experiências com essas mesmas imagens. Uma mulher nua desce as escadas, um pássaro pousa sobre o cérebro, alguém alastra o fogo pelo mundo.
De cima de suas contradições, a poeta grita que viaja na direção de seus medos e confessa baixinho que desconfia do corpo quando goza: há medo e fascínio nos poemas de Recomece, agora sem cigarro, porque há medo e fascínio no corpo e no gozo. Mas você pode seguir sem desconfiança na leitura, lembre-se apenas de levar a coragem. Como dizem os versos de Christine, a partir deste ponto, todos os caminhos são noturnos e / são teus.
Julia Dantas