O primeiro tear mecânico, inventado em meados do século XVIII, foi batizado de Spinning Jenny. Nem a máquina nos deixa esquecer da forte relação que existe entre mulher e trama. Antes de sua invenção, os atos de fiar e tecer sempre estiveram nas mãos de mulheres. Para os gregos antigos, o fuso e a roca eram uma imagem do Cosmos: as Moiras teciam a vida de cada indivíduo na Roda da Fortuna, passando pelas etapas essenciais da existência – do início ao seu fim. Além disso, tecer era um meio de comunicação, pois na sociedade grega não se dava a palavra às mulheres. Silenciadas, elas teciam.
Etimologicamente, texto quer dizer tecido. A mulher que tece não somente escreve, ela cria a si mesma, conta sua própria história. Natália é uma moça tecelã que, como no conto de Marina Colasanti, tece seu próprio destino e se recusa a ocupar a posição de obscuridade relegada às mulheres durante séculos. Tramando suas li…
O primeiro tear mecânico, inventado em meados do século XVIII, foi batizado de Spinning Jenny. Nem a máquina nos deixa esquecer da forte relação que existe entre mulher e trama. Antes de sua invenção, os atos de fiar e tecer sempre estiveram nas mãos de mulheres. Para os gregos antigos, o fuso e a roca eram uma imagem do Cosmos: as Moiras teciam a vida de cada indivíduo na Roda da Fortuna, passando pelas etapas essenciais da existência – do início ao seu fim. Além disso, tecer era um meio de comunicação, pois na sociedade grega não se dava a palavra às mulheres. Silenciadas, elas teciam.
Etimologicamente, texto quer dizer tecido. A mulher que tece não somente escreve, ela cria a si mesma, conta sua própria história. Natália é uma moça tecelã que, como no conto de Marina Colasanti, tece seu próprio destino e se recusa a ocupar a posição de obscuridade relegada às mulheres durante séculos. Tramando suas linhas, ela expõe o lado avesso da História, escrita nos bastidores (como o avesso dos bordados).
Tramóias é um conjunto de poemas sobre mulheres e linhas, sobre (r)existência feminina na tecitura. A trama é o lugar da lembrança, do registro de uma passagem, de uma vida, feminina acima de tudo e além de tudo (inclusive da história com H de homem).
Há múltiplas formas de se fiar uma trama. Assim como há inúmeras formas de se devir mulher.
A aranha vive do que tece. Vê se não esquece.
Rachel Leão